Bases da Adoração

Posted on fevereiro 21, 2007

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“Quando o povo soube que o Senhor decidira vir em seu auxílio, tendo visto a sua opressão, curvou-se em adoração”. Ex.4.31

Depois da batalha verbal com Deus, Moisés finalmente pára de resistir e vai ao povo com o objetivo de anunciar o que lhe foi ordenado. Arão ao seu lado era um grande reforço enviado pelo Senhor, e no cajado estava a munição contra a incredulidade do povo [aqui caberia uma bela discussão sobre o papel dos ‘sinais e maravilhas’, mas creio não ser este o momento, especialmente porque existem textos que tratam diretamente do assunto].
O texto revela que Moisés e Arão se reuniram com os líderes, ou as autoridades dos Israelitas, comunicando-lhes o ocorrido, e fazendo diante deles os sinais que confirmavam a veracidade de suas palavras. Diante disto eles creram. A notícia se espalhou, e o povo soube da iniciativa Divina de libertar o Seu povo.
Este é um momento de grande alegria para os israelitas. Quando uma criança está longe de seus pais e tem algum problema, uma frase comum utilizada para acalmá-la é: “o papai [ou a mamãe] já está vindo”. Estas são palavras poderosas. De fato, o reconhecimento de que o seu Provedor está agindo em seu favor traz paz, conforto, segurança, e alegria ao coração. Assim como uma criança chorando no jardim de infância Israel sofria, até ouvir que o Senhor “estava chegando”, ou promovendo a sua libertação.
O ponto a ser destacado é a situação descrita no verso 31. Este é um momento interessantíssimo para nós, na medida em que existem aplicações diretas das lições deste versículo para nossas vidas.
Consideremos o seu final – a adoração de Israel. Este gesto é a resposta do povo diante de algumas verdades compreendidas. Até que compreendamos estes pontos que os Hebreus entenderam, nossa adoração não será adoração, e sim mera festividade destituída de significado. Com isto não quero dizer que em cada momento de adoração estas mesmas verdades devem ser destacadas, pois a infinidade de Deus nos leva à adorá-lO pela Sua pluralidade de atributos e ações. Afirmo, sim, que mesmo o reconhecimento dos outros atributos de Deus depende primeiramente de uma convicção pessoal dos pontos em seguida destacados, e sem isto não há verdadeira adoração, porque não há conversão em primeiro lugar – e só adora a Deus quem nasceu de novo [Jo.3; I Co.2.14].
Pois bem, chegamos então ao conteúdo do que Israel compreendeu. Dois são os enfoques. Primeiramente o povo compreendeu sua própria condição. Pensamos ser bastante óbvio que os hebreus tenham entendido a sua realidade de escravidão e opressão, mas a Bíblia insiste em nos revelar que eles tiveram isto diante de si. A compreensão do nosso estado é essencial para qualquer reação à ação Divina. Se o povo não se sentisse escravo, ou se não percebesse sua opressão, dificilmente poderia responder em gratidão e adoração ao Senhor, afinal de contas, não sentiam a necessidade de libertação. Novamente, perceber o estado de opressão física e escravidão não é algo que exija muito de nossas mentes, especialmente pela dureza do tratamento e do serviço imposto. Contudo, existe hoje a opressão e escravidão espirituais que precisam ser reconhecidas, e dificilmente são percebidas, mesmo por cristãos professos. Sem o reconhecimento de nossas misérias e nossa condição de escravos do pecado e de satanás (Jo.8.34; 2Tm.2.25,26), não podemos entender a libertação do Senhor para nossas vidas, e logicamente, não podemos ser salvos. Com isto eu não quero dizer que temos a capacidade de compreender sozinhos o nosso terrível estado antes da salvação. Certamente não temos esta capacidade, e textos como 1 Co.2.14 são claros o suficiente para calar qualquer discussão sobre o assunto. Ainda assim, mesmo não possuindo a capacidade de compreender, temos a necessidade de fazer isto.
A situação é mais desesperadora do que imaginamos. Incapacitados de fazer aquilo que é necessário para a nossa salvação, percebemos que estamos completamente perdidos. Precisamos daquilo que não podemos fazer. É exatamente aqui que a beleza do Evangelho se apresenta diante de nós – Deus nos dá vida, e nos faz perceber as nossas misérias, bem como nos dá fé para crermos em Cristo, pela graça somos salvos, sem qualquer mérito nosso (Ef.2.1-10).
Em segundo lugar, e completando a idéia já iniciada acima, o povo reconheceu a decisão Divina. Perceberam-se perdidos, e então viram o Deus soberano caminhando em sua direção para lhes salvar. Que figura linda! O próprio Deus se compadeceu de pecadores indignos, e decidiu livrá-los da opressão. Se olhássemos apenas para a nossa condição perdida, o desespero seria o nosso fim. Viveríamos eternamente perturbados em nossa depressão, reconhecendo que não podemos nos livrar do que nos oprime. Contudo, os nossos olhos foram abertos, e contemplamos o Deus gracioso operando a libertação no meio do Seu povo, para a Sua glória. Isto é o Evangelho. Deus salva pecadores indignos por Sua graça.
Nossa adoração a Deus deve estar preenchida com o reconhecimento destas verdades. Quanta diferença isto fará na maneira como nos apresentamos diante de Deus! Somos o Seu povo, e Ele nos libertou! Por meio de Cristo fomos tirados de uma terrível condição para um estado completamente novo e cheio da graça de Deus.
Que tal dedicarmos mais tempo para percebermos as figuras bíblicas que descrevem a salvação do povo de Deus? O que elas têm em comum? O que elas falam sobre o povo de Deus antes da salvação? E depois?
Que tal observarmos as pessoas sem Cristo na perspectiva bíblica? (A perspectiva bíblica é de homens perdidos e escravizados). Que tal apresentamos o Evangelho fielmente, sabendo que Ele é a única esperança para a salvação de pecadores? Que tal orarmos e suplicarmos a Deus que salve pecadores (especialmente aqueles que temos evangelizado) assim como Ele nos salvou?
Que tal dar a Deus toda a glória por nossa salvação, sabendo que foi uma obra graciosa dEle? Que tal respondermos em adoração verdadeira, assim como o povo hebreu?

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