O Nardoni sou eu

Posted on junho 5, 2008

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Uma mensagem num culto pode ser algo completamente embaraçoso e desconfortante. Não digo isto pela duração da fala pastoral, ou pelo tom da voz do orador, como alguns podem estar pensando. Nem faço tal afirmação pelos exemplos de pregadores que transformam sua prédica em sessões psicológicas ou algo parecido (nada tão agoniante quanto aqueles caras dizendo: “repita comigo isso”, ou “diga para o irmão do seu lado: …”).

O motivo da minha afirmação é a pregação fiel da Palavra de Deus. Poucas coisas são tão desconfortantes quanto a exposição da Verdade. O autor de Hebreus comparou a Bíblia a uma espada cortante, e uma figura tão agressiva não era sem propósito.

A pregação de hoje me falou que eu sou o Nardoni. Sim, sim, sei que soa estranho, por isso vou tentar explicar. Primeiro eu não pretendo acusar ninguém de algo que não foi provado pela justiça. Então, apenas para os propósitos deste post, vamos presumir que o tal Nardoni estava envolvido na morte de sua filha. Pois bem: nada que eu não faria.

Jogar a filha de um prédio? Sim, e muito mais. Descobri que eu sou a Richtofen (lembram dela?). Eu seria capaz de matar meus pais e qualquer um que estivesse no meio.

Eu sou o Francisco das Chagas. Sou capaz de matar e emascular crianças indefesas.

Eu sou um homem, e isto é suficiente para me tornar tão perverso quanto qualquer outro ser humano.

A Bíblia me disseca plenamente, e diz pra mim, diante de Deus e de todos, que eu não sou “bonzinho” como penso. Pelo contrário: Jesus me mostrou todas as vezes que eu já assassinei alguém (Mt.5.22); adulterei (Mt.5.28); e cometi terríveis atrocidades, que ninguém viu ou ficou sabendo, porque aconteceram só na minha mente.

A Palavra de Deus diz que eu não tenho nenhum motivo pra me achar melhor do que o mais desprezível dos pecadores, porque somos exatamente iguais.

A grande questão que não me permite realizar aquilo que os citados acima fizeram, é um elemento externo chamado graça comum: a ação de Deus restringindo a minha natureza pecaminosa, e colocando freios nos meus delírios pecaminosos, de modo que eu não vá tão longe.

Sem a graça de Deus, eu chegaria lá onde chegaram. Eu faria o mesmo, ou pior.

Pensando desta forma, não resta algo do que me orgulhar. Pelo contrário, a vergonha toma conta de mim. Ao mesmo tempo, uma gratidão imensa vem à tona, pois tenho sido guardado por Deus.

Não tenho o direito de olhar para um criminoso como se eu fosse melhor do que ele. Cada assino, adúltero, pedófilo, traficante de drogas, ou qualquer outra coisa (pensem naquilo que mais lhes dá repulsa), é apenas o reflexo do que eu poderia ser sem a ação de Deus em minha vida.

Pra não pensarem que isto é pura falsa modéstia e auto-promoção, resolvo o problema: tudo o que eu escrevi serve pra vocês também.

Sola Gratia.

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