Reflexos

Posted on janeiro 18, 2010

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As duas acabaram de se encontrar. O sorriso nos lábios revela a cumplicidade de amigas de longa data. Uma delas, subitamente, toma aquele ar misterioso e confidente de quem tem um segredo a contar. “Babado”, elas chamam:

– Viu com quem o Lucas tá namorando?
– Namorando? Pensei que estivessem apenas ficando…
– Sei lá, essas coisas são tão confusas hoje em dia…
– Mas vi sim. Aquela garota… não sei não…
– Como assim?

E então começa um diálogo de, no mínimo, uma hora para avaliar todas as qualidades e defeitos do coitado do Lucas e de sua companheira, que ninguém sabe se é namorada ou o quê. Tudo é analisado em seus mínimos detalhes: namoradas anteriores, o contexto de ambos, a criação, o estilo sócio-econômico, as variações de humor, etc., etc. Escrevessem um livro daquela conversa, e sairia um tratado sobre relacionamentos.

Mas então, no domingo seguinte, as duas se encontram na escola dominical.

A professora pergunta sobre o impacto da morte de Jesus para a vida do cristão hoje.

Ambas ficam caladas, naquele silêncio mortal. Nenhuma relação a fazer. Nenhuma análise. Nenhum pensamento.

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