Norma Braga escreveu um artigo-denúncia sobre o que rolou na Consulta Nacional da Fraternidade Teológica Latino-Americana. O artigo não foi baseado em suposições, mas em relatos e posts dos próprios participantes do evento. Se você não sabe do que estou falando (ou mesmo se sabe), sugiro que dê uma lida lá no artigo da Norma e depois volte aqui.
Resumão da obra: a galera fez uma “ceia do Senhor” – mais pra “ceia da FTL”. Substituiu o pão e o vinho por limão e doce de leite, porque estes representam o amargo e o doce da vida. O gesto pode parecer bonito, mas é o total abandono do mandamento de Jesus quanto à ceia, e do significado deste sacramento.
O foco da discussão no post da Norma é a influência esquerdista-liberal e a dissolução de uma perspectiva bíblica do cristianismo. Ela está correta. Mas quero trabalhar outra questão. Aqui está a imagem da Consulta Nacional, e eu peço que você veja com cuidado os nomes dos palestrantes em destaque, e das instituições que apóiam tal consulta.
Não quero acusar precipitadamente, mas levantar a questão:
Senhores Ariovaldo Ramos, Any Ribeiro, Carlinhos Veiga, Carlos Queiroz, Clemir Fernandes, Christian Gillis, Harley Abrantes, Jorge Barro, Júlio Zabatiero, Lucy Luz, Odja Barros, Rafael Vaillant, Ricardo Barbosa, Sílvia Nogueira e Welinton Pereira: não nos deixem na dúvida e sejam honestos. Pedimos coragem para exercer a liderança que vocês pretendem: vocês concordam com esta prática? Concordam que a ceia do Senhor seja substituída por outro ato simbólico?
Editora Ultimato e Visão Mundial, vocês concordam com tal prática? Concordam com o que foi realizado ali, e descrito por Alex Fajardo:
“Encerramento da Consulta da Fraternidade com a Ceia celebrada pelo Carlinhos Queiroz e Silvia Nogueira. Compartilhamos o amargo e o doce da vida simbolizados pelo limão e doce de leite. Vida e comunhão é muito mais que “elementos e rituais”. Fundada em 1970 a Fraternidade Teológica Latino Americana é um espaço de amizade, não apenas de teólogos, mas de gente que pensa a teologia da vida por outras áreas do conhecimento, para uma criação de uma teologia latino-americana. Mas antes do labor teológico, a labuta da vida é compartilhada, lágrimas enxugadas e caminhada com os amigos … ops, ahh é isso que é a teologia verdadeira ….” ?
Concordam mesmo com isso?
Não tenho poder nenhum, e nem relevância no grande quadro teológico brasileiro, mas gostaria de respostas públicas e honestas destes homens. E encorajo cada cristão a fazer essas perguntas via e-mail, facebook, twitter e pessoalmente. Isto será de grande ajuda para termos clareza e conhecermos quem está à frente de iniciativas como esta.
Ao mesmo tempo, não me iludo. O discurso não-ortodoxo (declaradamente liberal ou não) é essencialmente vago, e de certo modo estou acostumado a ouvir pessoas envolvidas com a Fraternidade Teológica Latino-americana usarem uma linguagem confusa para esconderem a realidade de que abandonaram o cristianismo bíblico.
De todo modo, um movimento de cristão pedindo clareza destes homens, mulheres e instituições pode ser bastante útil para demarcar o compromisso com a Escritura, e para desmascarar líderes que aparecem como cristãos fiéis e, no fim das contas, trabalham para o afastamento das Escrituras.
Não pretendo afirmar que qualquer destes homens, mulheres e instituições seja perverso. Entendo que, se não todos, muitos são bem intencionados. Ainda assim, não basta boa intenção. Só a fidelidade bíblica define nossa caminhada em comunhão. Que tais pessoas apresentem o que crêem, sem meias palavras.
Norma Braga
junho 14, 2012
Allen, o Alex Fajardo explicou que não foi uma substituição, mas sim um acréscimo. O pr. Carlos Queiroz distribuiu os limões e o doce, “explicando” o que significavam, e depois distribuiu o pão e o vinho. A meu ver, a distorção continua. Ah, e o Alex pediu para retirar a foto dos elementos intrusos (é de autoria dele). Abraços!
allenporto
junho 14, 2012
Oi Norma, acabo de retirar a foto dele, sem retirar o print screen da página do facebook.
Vi a explicação dele, que, em minha compreensão, apenas “adia” o problema, mas não o resolve.
De todo modo, as perguntas estão aí. Alguém responde com clareza?
Abraço
Norma
junho 14, 2012
Não há explicação bíblica satisfatória. Como escrevi no adendo a meu post, o sacramento instituído por Cristo, nessa ceia, sofreu um acréscimo puramente humano e não -bíblico. A inserção de novos elementos simbolizando “o doce e o amargo da vida” deu a entender que nós nos alimentamos não só de Cristo, não somos unidos somente por Cristo, não somos vivificados somente por Cristo; mas que TAMBÉM os acontecimentos doces e amargos da vida também nos alimentam, unem e vivificam. Foi isso o que a invenção do celebrante fez, também simbolicamente: feriu a exclusividade do sacrifício de Cristo. E isso é grave.
Clodoaldo Brunet
junho 15, 2012
Isso nada mais é do que falta de confiança na suficiência das sagradas escrituras, algo realmente lamentável. Mas, isso é só o começo, onde vamos parar só Deus sabe.
Anatote Lopes
junho 15, 2012
É uma pena que a liturgia, para não dizer os sacramentos nas igrejas protestantes, posto que não aconteceu apenas com os sacramentos, mas com o culto todo, tenha se diluída tanto, para que hoje chegasse a esse extremo. Oh! Não diga que ainda pode piorar?
Acho que o problema está no abandono da Bíblia. Fundamentalismo, carismatismo e liberalismo são um perigo para os sacramentos. É uma pena que tudo tenha seu começo em raízes comuns. Quando tudo começou? Quando ocorreu o divórcio entre a liturgia e a teologia? Quando faltou equilíbrio? Acho que a resposta está no século XVII… Estou resgatando e os convido a resgatar alguma coisa que ficou para trás afim de construirmos igrejas saudáveis hoje.
Renato Vargens
junho 15, 2012
Allen, reproduzo aqui o que eu comentei no BLOG da NORMA:
O sacramento deixado por Cristo não pode ser alterado. Considero que ao usar limão e o doce, (mesmo, que não tenha existido oração consagratória),numa “cerimônia” aonde a ceia foi ministrada, afrontam as doutrinas cristãs.
Renato Vargens
allenporto
junho 15, 2012
Caro Renato, é um prazer receber sua visita. Volte sempre, e obrigado pelo comentário.
abraço!
Renato Vargens
junho 15, 2012
O prazer é meu! Parabéns pelo texto! Abraços,
Márcio Carneiro
junho 15, 2012
Allen,
Qual é a ligação da FTL com a IPB?
allenporto
junho 15, 2012
Olá Márcio, como estão as coisas?
Oficialmente, nenhuma ligação. Na verdade, até itens que fomentavam qualquer confusão, como uma espécie de “sede” (não exatamente) da FTL funcionando no seminário presbiteriano de Campinas, foram retirados, para não haver tal confusão.
Contudo, pastores presbiterianos podem se associar a esta fraternidade oficialmente, ou não oficialmente podem participar de suas programações, como tem acontecido.
Abraço
Alex Fajardo
junho 16, 2012
Olá. Apenas complementando a ideia da ligação da FTL com a IPB, realmente não existe nenhuma ligação oficial. Aliás, a fraternidade não têm ligação oficial com nenhuma denominação, não é este o seu papel. No estatuto da FTL lemos que ela é formada por: “pensadores cristãos comprometidos com a vida e com a missão da Igreja no Brasil e na América Latina” e que ela contribui para “a vida e missão das Igrejas Evangélicas no Brasil e na América Latina, sem pretender falar em nome delas e nem assumir a posição de seu porta-voz no Brasil.”
A Fraternidade não tem sede dos seus núcleos. Todas as reuniões são realizadas em espaços cedidos gentilmente por organizações, seminários e/ou igrejas, ou em espaços públicos. A retomada do núcleo de Campinas em 2009 foi em uma sala cedida pelo Seminário de Campinas com palestra do Ricardo Q. Gouvêa, que é pastor da IPB. Alguém da cúpula educacional da IPB não agradou-se deste encontro e sugeriu (leia-se mandou), que o seminário não mais cederia espaço para a FTL. Ou seja, a FTL Campinas realizou apenas uma única reunião no Seminário de Campinas. Ironicamente as reuniões seguintes da FTL em Campinas foram acolhidas em uma igreja da IPB. Também já realizamos encontros em outros seminários de outras denominações. Dos 3 coordenadores do núcleo de Campinas, 1 é pastor da IPI e os outros dois da IPB. Mas isto é uma exceção, creio eu, pois os outros núcleos que conheço são uma variedade de pastores de diversas denominações, entre luteranos, batistas, metodistas, presbiterianos etc.
Apesar disto, a FTL Brasil tem um histórico de pastores da IPB em sua diretoria. Já tivemos 3 pastores diferentes da IPB como presidente da FTL e 3 ou 4 como secretário executivo. A penúltima Consulta Nacional em 2010 foi realizada com cerca de 300 pessoas na Catedral Presbiteriana do RJ, com diversos pastores palestrantes da IPB, inclusive o anfitrião Guilhermino Cunha.
Nesta última Consulta Nacional ocorrida neste mês em Belo Horizonte, tínhamos cerca de 100 participantes, não conheço todos presentes, mas sem pensar muito, lembro de 9 pastores da IPB participantes, alguns palestrantes e outros eleitos para a nova diretoria 2012/2015, onde um pastor congregacional foi eleito como presidente. Temos apoio da revista Ultimato, que apesar de ser interdenominacional, é dirigida por irmãos ligados a IPB.
Enfim, dentro do “universo presbiteriano” que é vasto neste Brasil, alguns poucos fazem parte da FTL.
abraços,
Alex Fajardo
Alex Fajardo
junho 17, 2012
Pessoal, apenas uma correção do que escrevi acima. A retomada do núcleo da FTL em Campinas não foi em 2009, foi em 2010. E foram duas reuniões e não uma. Eu mesmo participei das duas. Uma em abril e outra em novembro de 2010. Fui procurar no meu próprio blog e achei o post das duas.
Abraços e
Alex Fajardo
Marcos
janeiro 15, 2013
Preocupações fundamentalistas que nada acrescentam à prática Cristã… Infelizmente muitos cristãos substituem os ensinamentos de Jesus de Nazaré pelos dogmas da Igreja e assim perdem o essencial da Mensagem cristã… O texto diz que Jesus estava sentado ao redor da mesa com seus discípulos no momento da ceia… Era um momento de celebração e graciosidade, partilhar pão e vinho por todos, simbolizando a partilha de sua própria vida… Tornar esse momento de celebração e partilha de rememoração do sacrifício de Cristo em motivo de discórdia e separação, isso sim é caminhar pelo caminho inverso do de Jesus… Na igreja na qual sou um dos pastores Já fizemos esta mesma celebração após a partilha do pão e do vinho partilhamos rapaduras e limão… Na pascoa fizemos uma ceia como a judaica com cordeiro, ervas amargas e os outros elementos trazidos pela escritura… Não nos tornamos Judeus por isso, e nem esquecemos da ceia cristã… Apenas fizemos um outro rito… Os ritos deveriam servir para isso trazer a memória eventos que são importantes para a comunidade de fé… E não servir de dogmas a partir dos quais quem não cumprir o dogma da Igreja será vítima de acusações e até expulso do meio dos “Santos” cristãos…. ;)
allenporto
fevereiro 14, 2013
Olá Marcos,
Sinto muito que você já rotule as coisas como fundamentalistas, e assim rejeite dialogar com elas. Será que ao fazer isso você não cai no mesmo erro que condena? Não cria divisão e discórdia? Acho que sim, mas não sou contra a oposição honesta e fundamentada.
Entendo que sua compreensão da ceia é errônea. O papel dela não é de simplesmente “trazer à memória eventos que são importantes”, como você descreve. Fosse assim, e Jesus não teria prescrito um tipo específico de rito. Por que não sermos criativos em nossas lembranças? É com base nesta compreensão que as novidades se apresentam, como substituir os elementos deixados por Jesus, por outros.
Mas Jesus deixou uma ordenança; um sacramento. A ceia é sinal da aliança de Deus conosco. Por isso, não temos o direito de alterá-la a nosso bel prazer. Nossa criatividade pode se manifestar de diversas maneiras, mas jamais para alterar um mandamento do Senhor.
Sabe, na carta aos coríntios Paulo fala de pessoas que celebravam a ceia de maneira errada, principalmente com um coração errado. Se a ceia fosse simplesmente uma lembrança de algo, o Senhor teria ligado? Acredito que não. Mas sabemos que a resposta de Deus não foi essa. O Senhor matou algumas daquelas pessoas, para aprenderem a obedecer a Deus adequadamente. A comunhão e celebração precisam andar acompanhadas da obediência e da santidade. Sem isso, nossa adoração é falsa.
Se Deus usou a ceia como instrumento de divisão – entre os obedientes que permaneceram e os desobedientes que morreram – como posso agir diferente?
Diferente de você, penso que essa questão afeta, e muito – a prática cristã.
Um abraço