Mark Driscoll e o plágio

Posted on dezembro 20, 2013

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Uma das polêmicas que tomou conta do meio cristão norte-americano (e além) nas últimas semanas foi a denúncia de plágio cometido pelo pastor Mark Driscoll, da Mars Hill Church.

Em uma entrevista para divulgar seu novo livro “A call to resurgence”, foi acusado pela entrevistadora, Janet Mefferd, de copiar e publicar materiais nesta obra sem a devida citação das fontes – no caso específico, o Dr. Peter Jones.

A conversa não seguiu em um bom caminho, e terminou com as partes ainda em desentendimento. Nos dias seguintes, Mefferd publicou evidências de plágio em outras obras de Driscoll, especialmente no guia de estudos sobre 1 e 2 Pedro distribuído internamente na igreja Mars Hill. As fotos publicadas por Mefferd demonstravam seções idênticas – com uma palavra ou outra diferente – sem a devida citação da fonte.

Driscoll: mais uma polêmica

Várias pessoas escreveram a respeito, tanto para acusar Driscoll, como para defendê-lo. Janet Mefferd, depois de um tempo, reconheceu que sua abordagem não foi a mais sábia e retirou os posts, bem como a entrevista do ar. Sua assistente pediu demissão, publicando nota de repúdio e alertando para um mercado de celebridades intocáveis no meio cristão.

Enquanto isso, o Pr. Mark permaneceu em silêncio – algo que não parece muito com o seu estilo.

Mas no dia 18 de dezembro a editora Tyndale, que editou o último livro de Driscoll, publicou os resultados de sua investigação sobre plágio. Segundo a Tyndale, o Pr. Mark citou devidamente as obras do Dr. Peter Jones, e, portanto, o plágio não pode ser configurado em seu último título.

A nota também veio com uma declaração do próprio pastor, que comentou o caso dos guias de estudo em 1 e 2 Pedro. Driscoll afirmou não ter sido intencional, mas reconheceu que o erro é grave, e assumiu a responsabilidade por ele. Fez contato com um dos editores da obra copiada, pediu perdão, retirou os pdfs gratuitos oferecidos no site da igreja, e agora trabalha em uma revisão minuciosa de outros títulos para checar qualquer erro.

É de se lamentar o evento por uma série de fatores. Deve-se lamentar o erro de Driscoll. Ele informou que não foi intencional, e tal crédito deve ser dado, mas erros como esse comprometem severamente seu ministério e seus livros.

Deve-se lamentar a cultura dos tablóides no meio cristão. Pessoas que desejam “capitalizar” sobre o erro de outros e contribuir mais para um clima de confusão do que de tratamento adequado da questão.

Deve-se lamentar pelos algozes. Li em mais de um blog a idéia de que “se ele estivesse numa faculdade, seria reprovado”. De fato, isto é verdade e atesta a seriedade do erro. Mas me parece que as declarações públicas da editora e do pastor vão no sentido de reconhecer tal seriedade. Em uma faculdade, o trabalho é rejeitado. Ao que parece, para alguns, o equivalente no ministério seria a execração pública de Driscoll ou algo do tipo.

Provavelmente o episódio aponta para problemas maiores. Nesse sentido, as análises de Andy Crouch e Jared Wilson são instrutivas. Para o primeiro, a questão fundamental não é o plágio, mas o problema do ghostwriting e da equipe de assistentes não nomeados como co-autores da obra. Mais além: o problema é a imagem criada de um pastor superprodutivo, cujas capacidades de publicação vão além do que um humano pode fazer. Crouch destaca que o problema real não é plágio, mas idolatria.

Na análise de Jared Wilson, Driscoll tem se afastado do movimento que ele chama de “neo-reformado”. Wilson concorda com a análise de Crouch, e destaca o problema de se criar uma imagem pública exagerada. Para ele, tal projeção tem criado problemas maiores, como a falta de prestação de contas e responsabilidade pessoal.

Suas análises podem conter erros, mas certamente são de fazer pensar.

Outros têm denunciado a cultura de celebridades no meio gospel há mais tempo, como Carl Trueman. Mas este publicou um texto criticando a nota da editora Tyndale e do Pr. Mark. Ao que parece, não é suficiente reconhecer o erro e pedir perdão publicamente. E a pergunta surge: o que seria suficiente para satisfazer a justiça de Trueman?

*Nos links do texto há outras indicações para quem deseja ler mais sobre a questão. Aproveite e separe uns momentos para orar por seu pastor e pelos escritores cristãos de nossos país.

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