Breve história de minha passagem no CPAJ

Posted on outubro 28, 2015

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Eu não sabia o que era o CPAJ. Ouvi falar, pela primeira vez, quando ainda cursava o seminário teológico (2003–2005). O Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper logo se tornou um sonho: estar entre os teólogos que eu lia, e aprofundar os conhecimentos na perspectiva reformada habitou minha imaginação por algum tempo.

Primeira semana de aulas

Como fazer? Isso eu não imaginava. Eu era um jovem batista com medo de viajar de avião, e sem os recursos necessários para arcar com os custos do CPAJ e das passagens. O amor era platônico.

O Senhor me conduziu por outros caminhos. Fiz o que estava às minhas mãos: terminado o seminário, comecei a especialização na Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FITRef) — cursada online. Após tal etapa, já em 2008, considerei um mestrado teológico em minha cidade. No primeiro módulo, composto de três disciplinas, fomos inundados de teologia liberal e neo-ortodoxa; até mesmo os exercícios de metodologia da pesquisa eram realizados em textos de Rudolf Bultmann. Era demais para mim.

Em Julho daquele ano o Pb. Solano Portela veio a São Luís para ministrar palestras na Igreja Presbiteriana do Renascença. Conversei brevemente com ele, e fui encorajado a fazer o processo seletivo, e a falar com o Dr. Davi Charles Gomes, diretor do CPAJ, para tentar alguma bolsa.

Fiz a prova. Alguns dias depois, fui entrevistado pelo então Rev. Fabiano Oliveira, professor da casa. Conversa agradável, com aquele “jeitão” amigável do mestre. Fui bem recebido, e informado que em breve saberia sobre a possibilidade de um desconto. O custo total ainda era caro — passagens de São Luís a São Paulo são um terror! — mas agora, com esforço, já era possível entrar no programa.

A prova de que o CPAJ afeta todas as áreas da vida. E de que eu já tive cabelo.

Eu já estava apaixonado pelas leituras de Schaeffer, e escolhi teologia filosófica. Meu primeiro módulo foi em maio de 2009 — Cosmovisão Reformada. Ali conheci pessoalmente o mestre Fabiano, e vi pela primeira vez a minha futura esposa.

Não entrei no “Jumper” para namorar. Pelo contrário: esperava encontrar ali apenas pastores feios e carecas, começando por mim. Mas lá estava ela, bastante participativa nas aulas, inteligente e divertida. Não foi amor à primeira vista, mas a primeira impressão foi ótima.

O primeiro módulo foi especial. Tinha o gostinho de sonho realizado. Para além disso, viabilizou o aprofundamento do do pensamento de cosmovisão. Foi uma conversão!

Em seguida cursei epistemologia reformada e não entendi nada. Notei que a paixão por Francis Schaeffer não era suficiente para estudar teologia filosófica. Será que eu estava no lugar certo?

Com o encorajamento do professor, fiz a transição do programa M.Div (mestrado em divindade) para o STM (Sacrae Theologiae Magister), de natureza mais acadêmica.

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Diversão fora de sala!

O resto é história. Pude fazer grandes amigos, como David Portela, Gaspar de Souza e Norma Braga. Tive aulas com o Dr. Davi Charles Gomes e fui profundamente inspirado. Não tive aulas com o Rev. Tarcízio, mas fiz um amigo-mestre. Passeei pela biblioteca, deslumbrado com tantos títulos à mão.

Fiquei tempo o suficiente para ver o CPAJ mudar de prédio e notar alterações no corpo docente. O Fabiano não ensina mais lá; o Dr. Davi agora é chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie; O Rev. Mauro Meister é o novo diretor; o mestre Filipe Fontes está à frente do departamento de teologia filosófica.

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David Portela, quando o Lucas ainda era um bebê

Durante esse período, aprofundei as pesquisas em Francis Schaeffer e Cornelius Van Til. Também li um pouco de Herman Dooyeweerd e autores relacionados. Descobri coisas que não imaginava, mas o conhecimento foi apenas parte da experiência.

Talvez o mais marcante do CPAJ seja o tom pastoral das aulas e dos professores. Discutir teologia e filosofia com os olhos marejados; refletir sobre o nosso coração; adorar a Deus com o livro aberto; orar e cantar juntos… Todas são experiências de sala de aula no Andrew Jumper.

Eventualmente eu fui ordenado ao ministério pastoral. Depois, fiz a transição da Igreja Batista para a Igreja Presbiteriana do Brasil. Casei-me com a moça linda de Brasília (aquela da sala de aula), e me envolvi no trabalho de plantação de igreja em minha cidade. Faltava concluir o curso.

Bibliografia básica

Bibliografia básica

O desafio é grande para quem deseja estudar e se dedicar ao ministério. Especialmente se se tem dificuldade em dizer “não”. Esgotei os meus prazos, e passei a depender da misericórdia da câmara de professores. Consegui algum tempo a mais, e me dediquei a escrever — não do jeito que eu gostaria, mas com a urgência necessária.

Finalmente, o trabalho saiu. Imperfeito, com as mais de três mil notas e correções indicadas pelo Rev. Filipe Fontes. O trabalho de revisão ficou prejudicado pela pressa, mas finalmente entreguei a dissertação.

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Eu e a banca. Da esquerda para a direita: Rev. Ms. Filipe Fontes, Eu, Rev. Dr. Davi Charles Gomes e Rev. Dr. José Carlos Piacente Jr.

E enfim, no último dia 23 de outubro de 2015, às 11h, na sala 13 do prédio do CPAJ, apresentei o meu trabalho. Na banca estavam o Rev. Dr. Davi Charles Gomes, o Rev. Ms. Filipe Fontes, e o Rev. Dr. José Carlos Piacente Junior. Até nas críticas o tom era amoroso e pastoral. Após deliberação, recebi a ata de aprovação, e a destra da comunhão. A longa caminhada chegara ao fim. Será?

Já me perguntaram sobre o doutorado. Se Deus quiser, ele vem. Mas a hora é de aquietar o coração, praticar o que aprendi, escrever as correções necessárias ao texto final da dissertação, e curtir a minha família e igreja, que tanto suaram comigo na trajetória.

A Deus toda a glória!

Posted in: a Caneta