Você deve estar acompanhando o clima de conflitos em São Paulo nos últimos dias. Não entrarei no mérito da questão, se o motivo são 20 centavos ou direitos inalienáveis da humanidade. Estou preocupado em ver opiniões apressadas serem lançadas no facebook com uma atitude problemática. Por isso gostaria de dar umas dicas aos meus amigos, cristãos ou não, que desejam lidar com o ponto.
1 Informe-se sobre o assunto
Adquirir informação é o passo mais básico e mais essencial para formular uma opinião e uma atitude. Obviamente você tem os seus meios de informação preferidos. E espero que você seja honesto o suficiente para saber que os seus meios preferidos contam as histórias a partir de um ponto de vista. Por isso, em vez de ficar choramingando como muitos na internet sobre como “falta imparcialidade neste mundo”, simplesmente aja de maneira inteligente: leia conteúdos de fontes distintas, que apresentam a história de pontos de vista diferentes.
Aqui é bom ler o direitista/reacionário Reinaldo Azevedo, e o esquerdista/comunista Paulo Henrique Amorim. É bom ler o conservador Mídia Sem Máscara, e o progressista Carta Capital.
Leia de tudo. Mesmo alguns textos chatos e cheios de clichês. Pode ser que encontre ali algum elemento importante de compreensão. E isso te dará melhores argumentos quando, e se for necessário apresentar a sua opinião. O que nos leva ao segundo ponto.
2 Não distribua a sua opinião como se ela fosse a mais essencial do universo
Muitas pessoas vivem sem saber quem você é e o que você pensa sobre o mundo. Não saia distribuindo sua opinião nas redes sociais de maneira irresponsável e arrogante. Avalie primeiro se há necessidade de contribuição da sua parte à discussão em foco. Você tem algo a acrescentar, ou só pretende repetir o que já foi dito por aí? Se pretende repetir, você pelo menos o fará de uma maneira mais didática, criativa, ou útil para outro público?
Qual a sua real intenção ao lançar seus comentários no facebook?
- Apenas desabafar, como se a rede social fosse o seu divã virtual? Essa abordagem é perigosa porque sua exposição pode lhe trazer vários problemas
- Provocar alguém que lhe irritou com um comentário do qual você discorda? Que tal chamar para uma conversa honesta e não tentar se vingar através de indiretas no fb?
- Influenciar pessoas a pensar de maneira responsável, talvez inicialmente apenas levantando perguntas e aos poucos obtendo respostas? Esse é um bom passo.
- Demonstrar uma visão distintamente cristã de encarar os eventos culturais, e preencher as discussões acaloradas com graça e beleza? Siga em frente!
Um dos problemas de comentários apressados no facebook é considerarmos nossa opinião in-dis-pen-sá-vel! Por isso, quando alguém discorda surgem as brigas homéricas na terra do Zuckerberg. Não precisamos disso. Precisamos de pessoas honestas e humildes, que desejam lançar luz e servir umas às outras. Pessoas tão responsáveis intelectualmente, que estão dispostas a se calar em vez de soltar meras opiniões infundadas.
3 Compreenda os efeitos do pecado sobre todas as fontes de informação e discussão
Por causa do pecado, você terá dificuldades de uma compreensão mais plena, e tenderá a tomar atitudes pecaminosas. Da mesma maneira, às pessoas à sua volta farão de modo semelhante. Estar ciente disso pode preservar você, e lhe dar um senso dobrado de vigilância pessoal.
Lembre-se que a grande classe de jornalistas hoje fala em favor de si, mais do que da notícia. Hoje muitos jornalistas se tornaram militantes contra a polícia porque estão mais preocupados em descrever o que sofreram do que em entender e descrever a situação mais ampla acontecida ali. Não deixe que as interferências de nossos pecados, egoísmo e outros fatores atrapalhem severamente a sua atitude diante das notícias.
4 Busque as conexões dos fatos e atitudes com princípios bíblicos
A opinião de Deus sobre os eventos é mais importante do que a sua. Então antes de sair apoiando o grupo que deseja enfrentar a polícia, comece a pensar sobre os princípios bíblicos relacionados ao respeito das autoridades instituídas por Deus (Rm.13). Ao mesmo tempo, antes de advogar silêncio e passividade do povo, lembre-se do princípio bíblico de clamarmos por justiça. Junte a isso aspectos dos mandamentos de Deus, como o amor ao próximo, o não matarás e seus desdobramentos sobre nem lesionar o próximo, entre outros princípios, e comece a estabelecer o trilho sobre o qual o seu coração vai caminhar nesta discussão.
5 Ore por São Paulo e Outros estados que pretendem fazer manifestações
A cidade precisa de paz. O Shalom sempre foi um desejo bíblico. Não podemos simplesmente ficar criticando polícia ou manifestantes do nosso quarto ou home office, se o nosso coração não se aquece de amor e compaixão por pessoas que agora experimentam conflito, perturbação, lesões físicas e emocionais.
Oremos por aquelas pessoas. Peçamos a Deus que dê paz a São Paulo. Oremos pelos manifestantes e pelos policiais. Oremos pela prefeitura e pelo Governo. Oremos por nós, para que sejamos pacificadores em nossa nação. Oremos pelo nosso país.
6 Confiemos que a solução final para os conflitos humanos é o evangelho de Jesus
Direitos humanos, passagem a preço digno, inflação crescente, taxa de emprego, etc., tudo isso ocupa um lugar importante, que merece discussão e – quem sabe – reivindicações. Mas o problema último do coração humano não é a passagem de R$3,20. É o débito incalculável que eu e você não podemos pagar, mas que Jesus pagou na cruz. A verdadeira paz estabelecida nos relacionamentos só pode vir por aquele que pacificou a relação de um Deus irado com pecadores irados. O evangelho traz graça, traz paz, e resolve o problema mais fundamental do homem – o pecado – para, a partir daí, tocar o homem por inteiro. Nunca inverta essa ordem.
Cláudio Antônio da Silva
junho 14, 2013
Infelizmente somos um país pautado em boatos, e, é assim que passamos os nossos miseráveis dias, acreditando e propagando boatos. Valeu pelas dicas.
José Roberto Sousa
junho 15, 2013
Parabéns Allen, seu texto é uma contribuição inestimável para o meio evangélico sobre como lidar com essas questões.
Eu li inúmeras opiniões no fb sobre esta situação e vi como elas se encaixam nos teus comentários.
O que me deixa preocupado é ver pessoas do meio evangélico apoiando depredações como se essa fosse uma forma legítima de protesto.
Creio ainda que esses jovens que estão protestando tem coisas muito mais sérias a protestar mas misteriosamente só se levantam nessas pequenas causas.
Reverendo Ruivo
junho 15, 2013
Não podemos e nem devemos ficar ALIENADOS aos problemas que ocorrem bem perto de nós e nos dizem respeito diretamente. A igreja, principalmente pela influência de seus líderes despreparados e acomodados em seus altos salários e conforto ministerial, está sem salgar e sem iluminar coisa alguma em nossa sociedade. Fechamos “pacotes” de interpretação bíblica para os problemas contemporâneos, de forma que qualquer cristão que quiser participar ativamente e de opinião contrária a geral, é taxado de rebelde, pecador e até herege. Os ensinos de CRISTO, devem ser praticados fora das quatro paredes!
allenporto
junho 18, 2013
Olá Reverendo Ruivo,
Seu comentário está cheio de problemas. Você pressupõe que quem não está se manifestando da mesma maneira que o mainstream é alienado. Pois eu lhe mostro uma penca de pessoas muito mais esclarecidas e antenadas do que essas massas, que simplesmente não está nas ruas. Por opção mesmo. Por considerar estes movimentos, para dizer o mínimo, desinformados. Então não se trata apenas de ser alienado ou não.
Além disso, você estabelece que a não participação de setores da igreja em tais manifestações se dá porque os pastores estão acomodados em seus “altos salários e conforto ministerial”, ao que eu pergunto: do que você está falando? Um pastor com alto salário e é coisa raríssima, e um pastor com “conforto ministerial” é uma impossibilidade. Pelo menos para os verdadeiros pastores. A nossa tarefa é o desconforto.
Você fala de “pacotes” de interpretação, talvez porque rejeite a compreensão clássica dos textos sobre a postura do cristão diante do Estado. Mas há muito o que ser questionado aí: quem disse que isso caracteriza um “pacote”? Anos de reflexão da parte da igreja agora são desprezados como mero “pacote”? Então teremos de considerar todas as doutrinas solidificadas do cristianismo clássico como “pacotes”? O que restará? Além disso, quem disse que um “pacote” é um erro, simplesmente por ser um “pacote”. Você rejeita o formato sem avaliar o conteúdo, e com isso pode estar perdendo verdadeiras pérolas de sabedoria que poderiam salvá-lo no meio desta efervescência revolucionária.
Talvez haja avaliaçÕes apressadas, e você está certo em reclamar. Mas não se engane: quem desobedece as Escrituras e as torce para seus propósitos é mesmo pecador, rebelde e herege. Não há melhor descrição.
Finalmente, você supõe que a única ou verdadeira maneira dos ensinos de Cristo serem praticados fora das quatro paredes é participando destes movimentos. Eu lhe desafio a provar isto. Existe gente muito piedosa que não participa de tais revoltas exatamente por estar praticando os ensinos de Cristo fora das quatro paredes.
Por isso, cuidado ao vir aqui soltar estas declarações apressadas.
Um abraço.
Fernando Oliveira
junho 15, 2013
Perfeito. Se todas as vezes que olhássemos qualquer notícia tivéssemos esse cuidado, a vida seria muito melhor. Parabéns!
Alexsandro
junho 17, 2013
Cara, que texto consolador o seu. Obrigado.
glaucia alves
junho 18, 2013
Isso mesmo, esse texto é consolador!!!
karen
junho 18, 2013
Muito boas dicas… com certeza irei segui-las… Shalon
Ivan Abreu Figueiredo
junho 19, 2013
Estou sendo muito edificado pelo seu texto, querido Allen